sexta-feira, março 18, 2011

Equilíbrio exige abandono de velhas crenças

Se dependesse dos executivos atuais, o dia não duraria "apenas" 24 horas, como estabeleceu o calendário romano, em 735 a.C. Para conciliar reuniões, viagens, telefonemas, cursos, filhos, lazer, amigos, encontros de família e mais uma dezena de compromissos diários, em meio à preocupação com as metas e à acirrada (e hoje globalizada) concorrência, seriam necessárias pelo menos 30 horas diárias. Uma mudança e tanto no sistema temporal que - reza a lenda - foi criado por Rômulo, primeiro rei de Roma, há 2.743 anos.
Menos mal que boa parte das empresas - pelo menos as ditas "socialmente responsáveis" - têm demonstrado preocupação crescente com a qualidade de vida de seus colaboradores, o que implica, necessariamente, um tempo maior para suas atividades pessoais.

Nesta entrevista exclusiva, Patricia Debeljuh Lujan, colaboradora do Centro de Investigação Trabalho e Família, da espanhola Iese Business School - uma das melhores escolas de negócios do planeta -, fala sobre a conciliação, apontando soluções e rumos para o tema no meio corporativo. Na opinião da especialista, que também é doutora em Filosofia pela Universidade de Navarra, para se chegar ao equilíbrio é preciso abandonar velhos conceitos. Para o bem de funcionários e da empresa, um destes velhos dogmas a serem extirpados da cultura corporativa é o de que a dedicação profissional se mede a partir do tempo que o executivo permanece dentro da empresa.
Gazeta Mercantil - Quais são as grandes dificuldades enfrentadas pelos executivos na atualidade, no que se refere à conciliação entre a vida pessoal e profissional?

O primeiro desafio é ter bem claras as prioridades pessoais. Se um executivo não é consciente da necessidade de equilibrar a vida profissional com a pessoal e familiar, dificilmente se questiona sobre como liderar as responsabilidades que tem diante das demandas de sua família. Em segundo lugar, quando as empresas se dispõem a assumir a responsabilidade de oferecer a seus empregados alternativas viáveis para equilibrar as exigências do trabalho com as de sua família, freqüentemente devem enfrentar estereótipos, muitas vezes repletos de preconceitos e temores. Será preciso considerá-los nas hora de encarar esta tarefa. Neste processo, essas velhas crenças serão afastadas e novas convicções ocuparão seu lugar, dando lugar a uma nova cultura. Entre as velhas crenças se destacam o conceito de que a dedicação a uma carreira se mede com base no tempo que alguém se dedica ao trabalho ou assistindo a reuniões informais fora do horário de trabalho, a idéia de que as mulheres são responsáveis por cuidar dos filhos e, portanto, deverão renunciar sua carreira profissional para atendê-los, ou ainda a visão de uma carreira profissional como uma linha direta, vertical e ininterrupta para cima.

Gazeta Mercantil - Em que aspectos o executivo se diferencia das demais categorias profissionais, em relação à busca de equilíbrio trabalho x família?

O executivo se move em um mundo muito competitivo e necessariamente por isto, às vezes, lhe custa não pensar em termos de rentabilidade. Talvez, a tendência para quantificar e medir todas suas decisões o leve a não contemplar os aspectos mais humanos da conciliação e o faça pensar que apostar nela é mais um custo e não um autêntico investimento.

Gazeta Mercantil - Quais as principais práticas a serem adotadas pelo profissional na busca do desejado equilíbrio com as questões pessoais?

Em termos pessoais, os diretores sentem a pressão por administrar bem o tempo e não se rebaixar às pressões do estresse. Neste sentido, são freqüentes entre eles cursos de capacitação nestes temas, para ajudá-los a gerenciar suas agendas e as pressões que recebem. Quanto à empresa, as práticas mais freqüentes têm como objetivo oferecer flexibilidade tanto temporal como espacial a seus empregados, presenteá-los com serviços extra-salariais que os ajudem em suas necessidades familiares, dar-lhes apoio profissional para administrar assuntos de interesse pessoal ou familiar e uma ampla gama de benefícios que promovam uma melhor qualidade de vida profissional.

Gazeta Mercantil - Há diferenças nas dificuldades enfrentadas por executivos brasileiros e europeus no que tange à conciliação?

A globalização faz com que quase não existam diferenças significativas entre diretores latino-americanos e europeus nesta temática. A cultura de longas horas de trabalho, o tempo desperdiçado em deslocamentos e viagens, a pressão por fazer carreira internacional - com a conseqüência do traslado familiar -, a ameaça de desemprego e a idéia de associar produtividade às horas passadas no posto de trabalho são comuns em ambos continentes.

Gazeta Mercantil - Em âmbito mundial, quais são práticas mais inovadoras de conciliação?

O ponto de partida para conquistar uma acertada combinação de vida familiar com o âmbito profissional está no trabalho bem desenhado, onde os objetivos estejam claramente delineados e no qual os trabalhadores tenham controle sobre onde, como e quando realizam suas tarefas. A partir daí, podem se estabelecer distintas políticas que ajudem a conciliar as demandas de trabalho e família. Entretanto, sua mera implementação não é suficiente. É preciso que estejam situadas dentro de uma cultura familiarmente responsável que configure um autêntico pensar e atuar dentro de cada organização. Deste modo, os empregados não apenas se sentirão livres para utilizar as soluções que a empresa lhes oferece, e sim também terão a confiança e o estímulo para participar e integrar outras alternativas adaptadas às suas necessidades particulares.

Gazeta Mercantil - Quais foram as grandes mudanças ocorridas nos últimos anos em relação à conciliação?

O desafio de equilibrar trabalho e família é a luta diária de todo trabalhador que pretende balancear as muito freqüentes demandas contrapostas que apresentam a vida pessoal e a atividade profissional. As condições do mercado de trabalho sofreram grandes transformações nas últimas décadas. Da tradicional divisão das tarefas pela qual os homens saíam para trabalhar e as mulheres se dedicavam ao lar, se passou a um novo paradigma, no qual, atualmente, tanto eles quanto elas se propõem uma carreira profissional compatível com as exigências de uma vida familiar, muitas vezes pressionados por necessidades econômicas. A realidade mostra também que, enquanto a força de trabalho mudou drasticamente, o lugar do trabalho não. Daí surgem conflitos e dilemas na hora de conciliar as demandas de uma profissão com as necessidades de uma família e, em muitos casos, as pessoas pressionadas por ambas exigências, chegaram inclusive a limites de exaustão na tentativa de "atingir tudo".

Gazeta Mercantil - Qual o papel do gestor de pessoas na construção de um novo modelo de trabalho, marcado pelo equilíbrio nas relações trabalho x família?

Diante do contexto de crise, com tantas tensões e pressões, as pessoas têm se dado conta da importância que tem a família como um forte pilar de contenção. Daí que são os mesmos empregados os quais estabelecem suas necessidades e esperam que as empresas considerem suas demandas familiares. Mas, além disso, o fundamental é que aqueles que dirigem as empresas alcancem, por meio de políticas de conciliação, um autêntico pensar e atuar que impregne a vida de uma organização e se traduza em decisões concretas. Assim, será possível criar uma nova cultura que seja reflexo da diversidade da força laboral atual.

Gazeta Mercantil/Vida Executiva/Marcelo Monteiro - 10/09/2008

quinta-feira, março 10, 2011

VOCÊ É UM BOM COACHEE?

Por Scher Soares para o RH.com.br

Você provavelmente já deve ter ouvido falar nos termos coach e coaching. Mas, será que você é um bom coachee? O termo coach é proveniente do inglês e designa os papeis de técnico, treinador e facilitador. No âmbito do desenvolvimento pessoal e profissional, o coach é um grande aliado para o seu progresso, orientando-o de forma a mantê-lo sempre alinhado e congruente com suas metas e seus objetivos.

É através do processo de coaching que o coach e coachee estabelecem objetivos de desenvolvimento, metas, desafios e ações que deverão ser implantadas pelo coachee. Sendo assim, é provável que você se interesse em vir a ser um bom coach, mas para chegar a se tornar um bom coach, você precisa primeiro aprender a ser um excelente coachee.

O bom coachee é aquele profissional verdadeiramente interessado no seu próprio desenvolvimento e progresso. Para se tornar um bom coachee, primeiramente, é preciso entender de uma vez por todas que a responsabilidade pela sua vida é única e somente sua. Ou seja, o primeiro passo para se transformar em um bom coachee é resgatar a sua própria autonomia. Depois, entender que as coisas que acontecem e os fatos que deixam de acontecer na sua vida são consequências das ações que você empreende ou deixa de empreender pelo caminho.

Um bom coachee é um facilitador do seu próprio processo de desenvolvimento. Ele tem consciência dos seus talentos e dos seus desafios, enxerga com clareza os seus objetivos que estão à sua frente e entende quais serão os obstáculos que se interpõem entre si e seus objetivos.

Uma das competências mais observadas nos bons coachees é a congruência das suas ações com os seus objetivos. Bons coachees são aqueles que enxergam nos feedbacks dos superiores, as intenções positivas destes direcionamentos. Entendem que o processo de desenvolvimento requer a valorização e o reconhecimento dos pontos positivos, mas requerem também a observação e o direcionamento para correção de outros pontos, competências e ações. Um bom coachee é aquele que valoriza a presença do seu coach, que aproveita cada segundo ao seu lado, para perceber necessidades de desenvolvimento e promover ajustes nos seus mecanismos de ação. Um bom coachee comporta-se como uma criança que está fazendo continuamente descobertas sobre suas próprias potencialidades e que não se permite passar um dia sequer sem aprender coisas novas.

Imagine você, um representante externo de vendas. Este profissional deve trabalhar acompanhado do seu superior uma média de dois a três dias por mês. Racionalmente falando, se este tempo não for muito bem empregado, de forma estratégica e valorizando a alta performance, um representante de vendas pode chegar a levar meses para conseguir uma pequena evolução.

Um bom coachee ao trabalhar acompanhado do seu coach, teria de compactuar um uso intensivo do tempo com desafios para o desenvolvimento de determinadas competências: medir a performance a cada entrevista de negócios do dia; obter feedback e direcionamento para cada nova investida e ao final da jornada de trabalho; acordar metas de desempenho para o próximo encontro. A partir de, então, manter o nível de atenção pelo tempo restante, mesmo que trabalhando sem o acompanhamento do seu coach. Bons coachees fazem isso!

É estranho, mas é verdade. Muitos "profissionais" preparam-se para o dia no qual trabalharão acompanhados, revisam as informações, conferem uma energia especial às abordagens e dão o melhor de si. Aí, passados os dois ou três dias, o superior segue para um novo setor e aquele "profissional" volta à sua rotina normal, sem tanto empenho e dedicação. Bons coachees NÃO fazem isso! Bons coachees dão o melhor de si em tempo integral, estão de olho na excelência, criam seus próprios desafios e estão acostumados a se superarem a todo instante.

Em contrapartida, tenho percebido com espanto que é também muito grande o número de pessoas que apregoam sonhos e desejos por todos os cantos, mas que em suas ações, se tornam totalmente incongruentes com estes objetivos, não empreendendo qualquer ou quase nenhum tipo de ação que possa chegar a colocá-las mais próximas do cumprimento das suas supostas metas. São pessoas que desejam "um dia" conquistar a medalha, levantar o troféu, mas que sequer dedicaram um dia das suas vidas ao treino exaustivo que se exige de um verdadeiro campeão. Estes tais são os mesmos que se dedicam a sonhar com os minutos sobre um pódio, medalha na mão e hino aos ouvidos, mas que não se permitem pensar nos anos de trabalho intensivo que antecedem a cada verdadeira conquista.

Estes supostos "profissionais", são aqueles que acreditam que o chefe para ser um bom líder, deve poupá-lo de direcionamentos e feedbacks. Desejam superiores passivos, que compactuem com padrões de desempenho mediano e que se limitem a cumprir a simples rotina do acompanhamento sem objetivos.

Um bom coachee é mais do que isso. Ele gosta da gestão por resultados e está acostumado a ser reconhecido por sua performance. Ele é ativo e inconformado. Tem metas e objetivos, conhece os obstáculos e assume o compromisso com o seu próprio processo. Não vive em um "mundo de Alice" e não espera que o mundo reúna as características perfeitas ao seu redor. Não depende da empresa ideal, do chefe ideal, do governo ou de qualquer outra coisa. É realista e lida com os fatos como eles são. Um bom coachee, não se apoia em desculpas, pois entende que toda justificativa perpetua mediocridade. Seu foco está na solução e não nos problemas, gerencia a dispersão e valoriza o seu ativo mais precioso: o tempo.

Um bom coachee costuma definir uma estratégia para sua vida. O critério para seu processo de tomada de decisões é subordinar todas elas à sua estratégia. As ações congruentes com a sua estratégia são empreendidas de imediato, as incongruentes são deixadas de lado sem perda de tempo e dispersão.

Bons coachees desenvolvem a arte de aprender a aprender. Conseguem enxergar conhecimento e aprendizado em tudo ao seu redor. Como todas as outras pessoas, estão sujeitos as mesmas experiências, estímulos e oportunidades. A diferença é que um bom coachee valoriza cada passo em direção aos seus objetivos.

Bons coachees são pessoas de AÇÃO e na de INTENÇÃO. São mais ouvintes e menos conselheiros. Estão no mesmo mundo que você, com os mesmo desafios, o mesmo tempo e as mesmas dificuldades. Só que bons coachees são pró-ativos ao invés de reativos.

Bons coachees são pessoas de potencial, têm ideias próprias e pensamentos bem estruturados, mas são flexíveis e conseguem mudar o seu próprio ponto de vista quando necessário, pois para o bom coachee o que importa é o seu progresso e os seus resultados.

Um bom coachee não é expectador da sua própria vida. Ele é o ator principal e também o roteirista, que constroi a sua própria história, sempre com um final feliz.

Reflita um pouco antes de responder!
E então, você é um bom coachee?

Sucesso sempre!